Revestimento cerâmico da nave
Igreja e Hospital da Misericórdia de Viana do Castelo
[Viana do Castelo]
Número:
VC_VC_IgM0101
Designação:
Revestimento cerâmico da nave
Tipo de Património:
Azulejo
Classificação:
Revestimento cerâmico\figurativo
Descrição:
Revestimento em tons de azul e branco, aplicado em todas as paredes da nave, estruturando-se em dois níveis de leitura (paredes 1 e 3) com secções representando as obras de misericórdia (corprais na parede 1 e espirituais na parede 3) delimutadas por molduras internamente recortadas, de simulação arquitectónica. Nas paredes 2 e 4 a organização do revestimento é distinta, adaptando-se às características arquitectónicas das mesmas. As paredes laterais (1 e 3) dispõem, inferiormente, embasamento com cartela central onde se exibe, em algumas secções, o número e a designação da obra de misericórdia representada acima, delimitada por moldura com cartela superior onde se pode ler a transcrição de um versículo, em latim, alusivo ao episódio bíblico representado. A divisão para o segundo nível de leitura é bem marcada pelo friso pétreo que percorre a nave. Nestas secções, a moldura apresenta cartela inferior com a designação da obra de misericórdia e cartela superior novamente a transcrição de um versículo, em latim, alusivo ao episódio bíblico representado. Note-se que o emolduramento continua nas áreas ocupadas pelas janelas adaptando-se à arquitectura, como acontece no nível 1 em relação aos altares do Senhor da Cana Verde, em que os azulejos dispõem cartelas com transcrições complementares. No arco triunfal (parede 2), os azulejos simulam um arco que integra a imagem de Nossa Senhora da Misericórdia. O revestimento do coro conserva, inferiormente, a mesma estrutura da nave, adaptando-se apenas à arquitectura e integrando a transcrição superior na própria composição. Na parede 1 merece especial referência uma secção (1) representando o Rei David a tocar harpa. No coro alto, em correspondência com Nossa Senhora da Misericórdia, representa-se o Agnus Dei, alusivo ao quinto sinal do Apocalipse, envolto pela mesma simulação de arco que se observa no arco triunfal, mas com variantes que integram a arquitectura.


- 1719-00-00 | 1721-00-00 | Cerâmica\Século XVIII\Primeira metade\Ciclo dos Mestres [Revestimento]
Documentado - ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa da Misericórdia [...]
- 1719-00-00 [Encomenda]
Envio de orçamento detalhado dos azulejos para a igreja (ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 28-29) | O primeiro cálculo enviado de Lisboa previa que seriam necessários dezasseis mil azulejos, número que os ajustes posteriores viriam a aumentar ligeiramente (ADVC, Livro das Obras da Igreja, fl. 43 e ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 28-29).
- 1719-09-23 [Encomenda]
Data da sessão da Mesa da Misericórdia em que se informou sobre o valor dos azulejos - 2.000 cruzados -, que tinha sido pedido pelo engenheiro José da Silva Pais, em Lisboa, tendo por base a planta e as medições do engenheiro Manuel Pinto de Vila Lobos (ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 21) | O elevado montante envolvido levou a que a Mesa e o definitório, certamente reunido propositadamente para deliberar sobre a questão, consultasse "os irmãos de maior ponderação, respeito e qualidade, que viviam principalmente nas suas quintas dos arredores" (ADVC, "Acordo q se faz pella Meza e definidores sobre de haver de azilejar a Igreja desta S. Caza", Livro dos Acórdãos, fls. 312 v. e ss. Cf. ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], pp. 38-40.), que se manifestaram unanimemente a favor da obra. Para além de invocar o revestimento cerâmico como "huma das principais circunstancias do adorno das Igrejas" (ibidem), a Mesa e o definitório aludiam ao custo que, apesar de considerável, acabaria por se revelar compensador se se tivesse em consideração a despesa anual com a armação da igreja e os estragos que daí advinham, os quais necessitavam, naturalmente, de reparação (CARVALHO - A Pintura do Azulejo [...], anexo B, p. 1279).
- 1719-00-00 [Encomenda]
Despesas assinadas por Manuel Borges, mais precisas, indicando dezasseis mil e noventa e dois azulejos (ADVC, Livro das Obras da Igreja, fl. 44-44v e ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 29-31).
- 1720-10-15 [Encomenda]
Data do seguro para o transporte dos azulejos - quarenta e oito caixotões -, que seguiram de barco, no patacho Nossa Senhora da Vitória, do Mestre Manuel Barbosa Vogado, sendo depois necessário transportá-los até à vila. O seguro salvaguardava assim o investimento da Misericórdia no caso de "fogo corssarios inimigos falços amigos e de retençois de Reis e Princepes e de todos os dannos que possão vir a cauzar" (ADVC, Livro das Obras da Igreja, fl. 46-46v e ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 32)
- 1720-00-00 [Encomenda]
É comummente aceite que, depois dos problemas com o painel do arco triunfal, foi necessário pedir a Lisboa mais azulejos, ideia que levantou algumas dúvidas, pois a documentação apenas refere o pedido de trezentos e cinquenta azulejos para o último painel da capela-mor (dos quais sobraram cento e vinte, que foram aplicados no coro) (ADVC, Livro das Obras da Igreja, fl. 47-48 e ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 33-34). Admite-se que Manuel Borges adaptou o conjunto do arco triunfal com os azulejos disponíveis e, somente em 1721, foi necessária nova encomenda (CARVALHO - A Pintura do Azulejo [...], anexo B, p. 1279). | Manuel Borges foi gratificado em 9600 rs pelo muito trabalhona correcção do painel, motivada pelo engano nas medidas enviadas.

- António de Oliveira Bernardes - Pintor (Atribuído - [1957] SANTOS - O azulejo em Portugal, p. 118; [1968] SMITH - The Art of Portugal, p. 233; [1982] GONÇALVES - As obras setecentistas [...])
- Manuel Borges - Ladrilhador (Documentado - ARAÚJO - A Igreja da Santa Casa [...], p. 22, 31, 34, 35)


[Parede 1, nível 1, secção 2]
Localização: Parede 1, nível 1, secção 2

[Parede 1, nível 1, secção 3]
Localização: Parede 1, nível 1, secção 3

[Parede 1, nível 1, secção 5]
Localização: Parede 1, nível 1, secção 5

[Parede 1, nível 2, secção 1]
Localização: Parede 1, nível 2, secção 1

[Parede 1, nível 2, secção 2]

[Parede 1, nível 2, secção 3]
Localização: Parede 1, nível 2, secção 3

[Parede 3, nível 1, secção 1]

[Parede 3, nível 1, secção 2]

[Parede 3, nível 1, secção 3]
Localização: Parede 3, nível 1, secção 3

[Parede 3, nível 2, secção 2]
Localização: Parede 3, nível 2, secção 2

[Parede 3, nível 2, secção 3]

[Parede 3, nível 2, secção 4]
Localização: Parede 3, nível 2, secção 4

[Parede 4, nível 1, secção 1]
Localização: Parede 4, nível 1, secção 1

[Parede 4, nível 1, secção 2]
Localização: Parede 4, nível 1, secção 2

[Parede 4, nível 2, secção 1]


Material
Matéria transformada\Produto cerâmico\Azulejo [Azulejo]
Técnica
Cerâmica de revestimento\Técnicas de decoração\Faiança\À mão livre [Azulejo]
Cor
Branco [Vidrado]
Azul [Pintura]

ARAÚJO, José Rosa de - A Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo. 2ª ed. Edição. Viana do Castelo: Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, 1983.
BOTELHO, João Alpuim - A representação das Obras da Misericórdia nos azulejos da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo. I Congresso das Misericórdias do Alto Minho. Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais. 2001. pp. 178 - 203.
CARVALHO, Rosário Salema de - A pintura do azulejo em Portugal [1675-1725]. Autorias e biografias - um novo paradigma. Tese de Doutoramento em História da Arte. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2012.
MECO, José - O Azulejo em Portugal. Publicações Alfa, 1989.
SIMÕES, João Miguel dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.
MECO, José - António de Oliveira Bernardes. Dicionário da Arte Barroca em Portugal. Lisboa: Ed. Presença. 1989. pp. 79-81.
MECO, José - Policarpo de Oliveira Bernardes. Dicionário da Arte Barroca em Portugal. Lisboa: Ed. Presença. 1989. pp. 83-84.
SMITH, Robert C. - The Art of Portugal 1500-1800. London: Weidenfeld and Nicolson, 1968.
MECO, José - Azulejo. Arte Portuguesa da Pré-História ao século XX. Vol 13. Lisboa: Fubu editores. 2009. pp. 111-142.
SANTOS, Reynaldo dos - O Azulejo em Portugal. Lisboa: Editorial Sul Limitada, 1957.
SERRÃO, Vítor - História da Arte em Portugal - o Barroco. Barcarena: Editorial Presença, 2003.
SIMÕES, João Miguel dos Santos; CÂMARA, Maria Alexandra Gago da - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Edição Revista e Actualizada. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

GONÇALVES, Flávio - As obras setecentistas da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda de Peniche e o seu enquadramento na arte portuguesa da primeira metade do século XVIII. Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa. Lisboa. 89 (III série) : Assembleia Distrital de Lisboa. (1983), pp. 245-270.
GONÇALVES, Flávio - As obras setecentistas da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda de Peniche e o seu enquadramento na arte portuguesa da primeira metade do século XVIII. Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa. Lisboa. 88 (III série) : Assembleia Distrital de Lisboa. (1982), pp. 5-53.

- Rui Carvalho (2015-04-24, Levantamento fotográfico)
- Rosário Salema de Carvalho (2015-06-30, Investigação e inserção de dados no âmbito da tese - A pintura do azulejo em Portugal [1675-1725] [...])